Britney Spears: Uma Luta Contra a Misoginia

Britney Spears, em sua memória, “The Woman in Me”, revela uma realidade assombrosa. Quando seu pai a coloca sob tutela legal, diz a ela: “Eu sou Britney Spears agora.” Mais do que palavras, isso reflete uma dura verdade sobre como a misoginia e o controle patriarcal se disfarçam sob o pretexto de cuidados médicos.

A história de Spears é um eco doloroso da história das mulheres reduzidas a propriedade, subjugadas legalmente pelos homens. Sua trajetória ressalta como a psiquiatria, às vezes, perpetua esse domínio masculino.

Tutelas legais são criadas para proteger quem não consegue gerenciar a vida cotidiana. Porém, enquanto estava sob esse regime, Spears gravou para a TV, lançou um álbum duplo de platina e estrelou uma residência em Las Vegas. Seu caso contradiz claramente a finalidade de uma tutela legal.

Sob o controle de seu pai, Spears foi financeiramente limitada e teve sua liberdade corporal roubada. Ela expressa em sua memória o desejo de ter mais filhos, mas foi forçada a usar um DIU e teve seu peso constantemente monitorado.

Spears admite que 2008 foi um ano difícil, marcado por uma depressão pós-parto severa, o abandono do marido, a separação dos filhos, e a perda de uma tia querida. A mídia, ao contrário do tratamento dado a celebridades masculinas em situações semelhantes, rotulou suas ações como um colapso mental.

Seu livro destaca uma ausência alarmante de diálogo médico. Médicos, mais como fantasmas com poder e prescrições, aparecem raramente. Spears descreve um sistema onde suas preocupações e saúde mental foram ignoradas em prol da opinião de terceiros.

A história de Spears não é única. Jessica Taylor, autora de “Sexy But Psycho: How the Patriarchy Uses Women’s Trauma Against Them”, e Robert Whitaker, autor de “Mad in America”, reforçam que a psiquiatria tem sido usada como uma ferramenta para controlar mulheres.

Historicamente, as mulheres receberam a maioria dos tratamentos de eletrochoque e lobotomias nos EUA. O caso de Spears ecoa esse legado de tratamento excessivo e controlador.

Após 13 anos, a tutela legal de Spears terminou em 2014, impulsionada pelo movimento “Free Britney”. Sua luta ressalta uma realidade preocupante: a voz das mulheres muitas vezes só é ouvida quando amplificada por movimentos sociais e mídia.